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Foi um ano de mudanças... Trabalhei, esforcei-me para estudar como nunca, entrei para a faculdade e tenho a oportunidade de estar finalmente com ele.
Muitas madrugadas em claro, a chorar por stress de tanta mudança. Acordar com tantos nervos que ia a correr para a casa de banho vomitar, no silêncio da noite, a tentar fazer o menos barulho possível para que ninguém desse conta, para não dar explicações a ninguém, porque eu própria não conseguia explicar o que se passava. Via o meu corpo a mudar, a emagrecer sem razão aparente. Sem conseguir fazer nada, perdia o apetite. Escondia comida para que não soubessem que não comia, dizia que já tinha comido na faculdade, quando não o fazia. Aos colegas mais próximos da faculdade, dizia que não tinha fome, mas que mais tarde comia... Enganava-me a mim e as pessoas a meu redor sem dar conta. Enganava a pessoa que mais me ama no mundo dizendo que estava tudo bem, enquanto sentia a minha voz a falhar quando ainda falava com ela. Assim que desligava, caia-me o mundo aos pés... 
Fui a consultas de nutricionista para me orientar, mas o problema não estava aí... Enquanto não resolvesse o que me estava a bloquear, não saia daquele buraco infinito de stresse e angustia. O irónico disto, na mesma faculdade existe o curso de Psicologia, então ya, decidi pedir o contacto de um psicólogo, que me aconselhou a desenrolar todos os fios, todos os nós feitos dentro desta cabeça imunda de coisas por resolver. Desafiou-me a acreditar e confiar mais nos meus, a agarrar-me a quem tinha próximo. Sem essas pessoas darem conta da importância que estavam a ter, fui subindo degrau após degrau para sair dali. Todos os momentos de alegria, seja a comer um croquete com a chata da colega de turma, seja a fumar um cigarrito com o Papi T., seja a chatear o puto que ainda era menor, seja a criticar o mau gosto do Benfiquista e até mesmo comer aqueles hamburguers no mc no final de uma tarde das infinitas aulas, aconchegada pelo calor do abraço daquela pessoa que me é muito importante. Pequenas coisas que para mim fizeram toda a diferença para que conseguisse parar com tanta angústia que sentia sem perceber de onde vinha. Todas as escapadelas para estar com ele, todas as noites que pude estar a chatear-lhe a cabeça... Nem ele sabe o quanto me ajudou sem saber. Mesmo quando pedia para falar com ele, quando perguntava o que se passava, o que tinha falado com o psicólogo, ou o que tinha escrito naquele caderno cheio de palavras à toa, frases sem sentido, frases soltas... Nem mesmo aí conseguia falar sobre isto, porque nem tudo consigo dizer por palavras a saírem da minha boca, apenas com a ponta dos dedos ou com aquela caneta quase sem tinta que continua na mesma gaveta, fechada, juntamente com o caderno, pedindo para nunca ser aberto, nunca ser lido por nenhuma alma viva. O que é meu é meu, e o que ainda me pertence é a privacidade dos pensamentos nus de como sou realmente... A eterna criança que vive para ser mimada, no abraço quente do seu fofito, do abraço forte da mãe ursa, daquele choque de punhos do irmão e até mesmo daquele sorriso por de trás do balcão, do pai. A eterna criança que vive por de trás da quase adulta que sou hoje, que finge não se importar com muita coisa, que pede a si mesma para ser superior a coisas mínimas e para não se importar com tanta coisa. A eterna criança que tenta ser feliz com os seus pensamentos. 

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2015